O consumo irresponsável e desenfreado da população mundial do século XXI esgotou os recursos naturais da Terra, sobretudo os recursos hídricos, e desencadeou a terrível Catástrofe: A Terceira Grande Guerra Mundial, que exterminou bilhões de pessoas em todo o planeta. As bombas atômicas destruíram megacidades inteiras e os seus gases tóxicos infectaram os organismos dos seres vivos causando mutações genéticas que se perpetuaram entre as gerações. Após cem anos da guerra das guerras as pessoas que sobreviveram foram se reconstruindo e desenvolvendo uma nova forma de sociabilidade.
Um novo sistema de sociedade foi estabelecido semelhante ao período antigo da Idade Média, onde reinos dominavam outros reinos e a população era segmentada entre produtores e usurpadores de riqueza, camponeses e nobres donos de escravos. O maior de todos os reinos da Terra nesses novos tempos era o Reino de Cosmus liderado pelo majestoso rei Apolo. A nobreza de Cosmus, infectada pela ambição do poder pelo poder, pelo apego aos bens materiais e por vários tipos de preconceitos, continuava cometendo os mesmos erros do passado, como a exclusão social, a discriminação, a intolerância, a ganância por status e reconhecimento e a agressão aos menos favorecidos, como escravos, mutantes e doentes mentais que eram considerados possuídos por forças do mal e atirados na fogueira ou enclausurados na Câmara dos Loucos ou na Caverna do Diabo.
Apolo e todos os seus subordinados, conselheiros, generais e outros serviçais, acreditavam que as causas da Grande Guerra foram o consumismo exacerbado e o uso inadequado das tecnologias que culminaram com a devastação da natureza e viabilizou os conflitos entre as nações. Sendo assim todas as formas de tecnologia, sejam de transportes, telecomunicações e até mesmo o conhecimento foram abominados da humanidade, inclusive os livros e as instituições de ensino.
Em Cosmus existia apenas uma única e gigantesca biblioteca, porém o seu acesso era proibido e para isso alegava-se que era mal-assombrada. Apolo tinha dois filhos gêmeos não idênticos, Petrus e Lexus. Ambos eram totalmente opostos, pois enquanto Lexus fora treinado para suceder o pai pelos ignorantes e corruptos conselheiros do reino, Demétrius e Terrívius, Petrus fora ensinado, pelo sábio e bondoso Malthus, a ser um grande e brilhante ser humano que soubesse se colocar no lugar do outro, que pensasse antes de reagir e que reciclasse os fantasmas da sua mente. Lexus era forte, um excelente guerreiro habilidoso, era treinado para lutar combativamente nas guerras e se tornar um rei poderoso como o era seu pai.
Apolo não escondia a predileção por Lexus. Petrus era fisicamente frágil, desajeitado, porém um exímio questionador que refletia sobre tudo, amava a arte de pensar e sonhava em poder ler livremente, o que era proibido em Cosmus, afinal a leitura era considerada como uma heresia.
Petrus desprezava o poder pelo poder, questionava as injustiças de Cosmus, as atrocidades que eram cometidas, a exploração dos camponeses e escravos, a exclusão dos mutantes que eram tidos como criaturas abomináveis que mereciam ser rejeitadas e humilhadas, enfim, suas ideias batiam de frente com o sistema de relações sociais do poderoso Reino de Cosmus. Costumava se disfarçar e criar novos laços de amizade com os plebeus em pequenas aldeias e em uma delas, o Vale das Flores, conheceu a mulher da sua vida, a amável e inteligente Nátila, e o seu melhor amigo, o divertido e abobalhado Laurus.
Petrus, ao contrário do irmão, era dotado de humanidade e sensibilidade, além disso, as leituras que realizava o tornavam cada vez mais sábio, afinal, Malthus conseguiu as escondidas alguns exemplares de livros para o jovem, mas logo o rei ficou sabendo pelos seus conselheiros que espionavam tudo.
Certa vez foi pego pelos conselheiros convivendo com os camponeses do Vale das Flores, ainda que estes não soubessem que se tratava do filho do grandioso Rei Apolo, esta seria a oportunidade para que Petrus fosse condenado juntamente com Malthus. Em uma reunião, o Rei tomou conhecimento que Malthus conseguira livros para Petrus. Influenciado por Demétrius, Terrívius e Superius – que diziam que Petrus e Malthus eram uma ameaça para o futuro de Cosmus, já que Malthus estava ensinado ideias subversivas a Petrus – Apolo acabou condenando Malthus à prisão perpétua na Caverna do Diabo e aplicou a Petrus um dos piores castigos, o uso da Máscara da Humilhação.
A máscara era de ferro e apertava o rosto de quem a usava, durante o reinado de Apolo poucos a usaram e quase todos morreram de fome e sofrimento já que não dormiam direito com o desconforto diário e não podiam se alimentar, apenas bebiam líquidos, pois não era possível mastigar. Petrus foi condenado a passar um mês usando a máscara e todos os dias andava de cidade em cidade amarrado a dois guardas servindo de exemplo para que ninguém ousasse desafiar o rei.
Todos que o cercavam nas ruas o injuriavam, o menosprezavam, cuspiam em seus olhos e jogavam fezes de animais nos orifícios em que respirava o deixando asfixiado. Na metade do período, já desfalecido, cansado e desnutrido pediu para que os soldados o matassem, pois não aguentava mais sofrer. Nesse momento, Nátila apareceu e começou a cantar uma música que ele a ensinara e assim o deu forças para continuar lutando. No dia da retirada da máscara em praça pública Petrus quase foi apedrejado, porém a esperteza de Laurus o salvou, sendo que seu pai mesmo disfarçado entre a multidão nada podia fazer.
Quando descobriram que era o filho do rei ficaram assustados e temerosos do que o rei era capaz de fazer, afinal não poupara nem o próprio filho quem dirá eles, pobres subordinados. Petrus ficou atormentado por alguns dias, mas com a ajuda de Nátila e Laurus, que se disfarçaram ao entrarem no palácio, logo ficou bom novamente.
Algum tempo depois de Petrus se libertar da máscara o Rei Apolo abriu o processo de sucessão do trono e a primeira etapa foi uma corrida de cavalo entre os candidatos. Todo o espetáculo ocorreu no Grande Stadium onde vários reis, conselheiros, soldados e generais estavam presentes. Era evidente que Lexus chegaria primeiro e ganharia com facilidade. Na chegada teriam que atravessar por entre dois leões assustadores. Lexus como estava acostumado a montar ganhou fácil e ao atravessar os leões demostrou coragem levando a plateia ao delírio e aos aplausos.
Já Petrus todo desajeitado chegou por último e ainda sofreu um tombo além de quase não passar por entre os leões, mas também cumpriu a prova ainda que sem os mesmos aplausos dos presentes. No final, o rei decidiu presenteá-los e ordenou que pedissem o que quisessem. Antes, para homenageá-los, acrescentou uma palavra aos seus nomes, sendo que Petrus passou a se chamar Petrus Logus que significava “a pedra do conhecimento” e Lexus de Lexus Magníficus.
Lexus movido pela ambição pediu ao pai muitas riquezas, como ouro, soldados, celeiros, reinos e camponeses e o rei concedeu. Petrus, ao contrário, pediu apenas que pudesse ter acesso aos livros e, portanto, à biblioteca, pois considerava o conhecimento o maior de todos os tesouros. Muitos riram, afinal desprezavam os livros e a sabedoria como algo inútil. Para aceitar tal pedido o rei ordenou que Petrus o convencesse com uma única frase e ele refletiu e bradou: “um povo que desconhece a sua história está condenado a repetir os mesmos erros”. Todos ficaram atordoados com a sabedoria do príncipe. Pediu ainda para morar em um pequeno quarto anexo à biblioteca para facilitar seu acesso a qualquer hora. O Rei concedeu.Revoltados, os conselheiros e Lexus faziam de tudo para encontrar um motivo para condenar Petrus a uma pena mais severa e evitar que se tornasse o sucessor do trono.
Após todo sofrimento Petrus ainda continuava rebelde, impetuoso e revoltado com as injustiças do reino e com a maldade e indolência dos conselheiros. Quanto mais lia mais se tornava conhecedor da história dos seus antepassados. Na biblioteca fenômenos sobrenaturais começaram a acontecer. Ouvia-se vozes e gemidos como se os livros gritassem para serem lidos.
Laurus e Gerus, os soldados escolhidos por Petrus para a sua guarda, tremiam de medo e quase sempre dormiam com o príncipe em seu quarto.Ao descobrir no local que tinha um enorme leão branco Petrus ficou temeroso. Mas percebeu que a fera agia conforme os sentimentos que expressava como se fosse uma extensão da sua personalidade. Quando sentia raiva ou ódio o leão ficava agitado e violento, porém quando era tomado por sentimentos de alegria e paz a fera tornava-se dócil e inofensiva. Petrus descobrira um grande amigo protetor, mas também arrumara um traiçoeiro inimigo que poderia destruí-lo em questão de segundos e o seu domínio só dependeria dele mesmo.
Para se vingar de Petrus e deixá-lo desmotivado para continuar com seus ímpetos e impedir que se tornasse o futuro rei de Cosmus, os conselheiros planejaram uma armadilha para afastar-lhe a sua amada Nátila e todos os seus amigos. Tulus foi envenenado; Laurus enganado com uma proposta de que seria palhaço de um circo foi preso, além de ser forjado a escrever uma carta a Petrus dizendo que fora em busca dos seus sonhos; Nátila foi enganada a escrever uma carta dizendo que não amava mais Petrus e que ele não a procurasse mais, porém ela e sua mãe foram vendidas como escravas para o Reino de Andraus.
Diante de tantas perdas e sofrimento, como a perda da sua mãe ainda quando criança, a qual foi vitima de uma armação e condenada a viver isolada na ilha do esquecimento onde morreu tempos depois, Petrus ficou perturbado e foi acusado de estar possuído por forças das trevas e que se não condenado poderia pôr em risco o equilíbrio do reino. Convencido pelos conselheiros de que se tratado adequadamente Petrus logo ficaria bom Apolo o condenou à prisão na Câmara dos Loucos, um local fétido, escuro e tenebroso onde todos que apresentavam sinais de loucura eram trancafiados e muitos lançados em fogueiras. Superius e Demétrius revelaram a ele os fatos verdadeiros sobre Nátila o deixando profundamente furioso e triste. Na Câmara encontra Laurus e descobre que não havia ido embora, mas preso injustamente. Os dois conseguem fugir e promovem uma rebelião juntamente com os detentos que fogem e se libertam do sofrimento. Também descobriu que o pai de Nátila não tinha sido queimado na fogueira, mas há muitos anos estava preso na Câmara dos Loucos.
Petrus e Laurus conseguem entrar disfarçados na Caverna do Diabo e libertam o sábio Malthus que passa a viver com eles como andarilho. Petrus passou a ser o criminoso mais procurado do reino e durante os dias de fuga contra os soldados travam várias batalhas sendo que todas são vencidas com a ajuda de Instinctus.
Com a ajuda e companhia dos amigos Malthus, Laurus, Santorus e Broncus, um dos libertos da Caverna, Petrus parte em busca de Nátila e quase não a encontra. Antes encontrara apenas a sua mãe que desabafa dizendo que ela havia esperado anos e anos por Petrus, mas fora obrigada pelas circunstâncias a vender o próprio corpo para sustentar a família e não morrerem de fome.
Infectado pelo preconceito, Petrus se revolta e se deixa levar pelo ódio e a frustração e nesse momento Instinctus aparece e quase o extermina para sempre, porém ele se lembra de todos os momentos bons que passaram juntos, da sua delicadeza, do seu martírio e da sua bondade inigualável e a perdoa fazendo com que o leão se acalme assim como ele aquietara sua alma. Ambos estavam novamente juntos se amando depois de tantos anos separados.
Petrus revela a Malthus que viajava inexplicavelmente no tempo passado e que vivenciava fatos importantes da historia da humanidade. Malthus diz que ele fora escolhido para cumprir uma gigantesca e complicada missão: voltar no tempo e evitar que a terrível Catástrofe seja desencadeada e cause todas as consequências ao planeta e à espécie humana como o fizera décadas atrás.