O livro O Vendedor de Sonhos e A revolução dos Anônimos faz parte de uma saga que compreende três volumes. O Vendedor de Sonhos e A revolução dos Anônimos completa o segundo volume desta trilogia.
Na obra, Cury faz uma crítica contundente ao atual sistema social em que vivemos. Segundo ele vivemos em um sistema social doente que forma pessoas doentes para uma sociedade doente. Ressalta, portanto, a insanidade, a hipocrisia, o egocentrismo e a falta de altruísmo e sensibilidade das pessoas que vivem nesse sistema social. São, lamentavelmente, engessadas pelas atrocidades e injustiças sociais que acometem as sociedades modernas.
O protagonista da obra é um estranho maltrapilho que após perdas irreparáveis e frustações inexpressíveis passa a vender sonhos para as pessoas desoladas, angustiadas e asfixiadas pelos problemas existenciais.
O Mestre, como era chamado pelos seus seguidores e discípulos, era um indivíduo altruísta e sereno. Escondia o seu passado para os seus íntimos amigos. Assim como O Mestre dos Mestres era tranquilo e humilde. Doava-se muito sem expectativas de retorno.
Contemplava entusiasmadamente os pequenos e admiráveis eventos da vida, bem como o desabrochar de uma flor, a brisa suave do amanhecer e o sorriso de uma criança. Compreendia o incompreensível, ou seja, não se frustrava com os constantes e persistentes erros dos seus discípulos.
Não permitia que a sua mente fosse sugada pelo ódio e pela a intolerância. Vivia a arte da tolerância e do respeito mútuo. Compreendia a dificuldade de aprendizagem dos seus seguidores e não os punia quando falhavam ou cometiam erros.
Por mais que seus novos amigos fossem baderneiros e arruaceiros amava-os intensamente. Afinal, passaram a fazer parte de uma mesma família. Uma família de seres humanos que reconheciam suas fragilidades, suas limitações, sua pequenez diante do espetáculo da vida.
O Mestre, diariamente, os instigava a interiorizarem e refletirem sobre suas ações, seus atos. Queria, acima de tudo, libertá-los do cárcere da emoção. Dizia, eloquentemente, que não é possível exterminarmos os monstros e fantasmas alojados em nossa mente, mas, felizmente, temos o poder de domesticá-los ou reeditá-los.
Bradava, também, que a vida é cíclica. Que não há dor ou sofrimentos que durem para sempre. Em um momento estamos desfrutando o auge da fama e do sucesso em outro estamos amargando o ápice do desprezo e do anonimato. Portanto, devemos valorizar e amar as pessoas que fazem ou não parte do nosso ciclo de amigos. Aliás, devemos reconhecer o valor inestimável de cada ser humano, pois somos únicos no teatro da vida.
No grupo de andarilhos se destacavam os irônicos e humorísticos Bartolomeu e Barnabé, ambos eram alcóolatras. Dividam as mesmas desgraças e frustrações do percurso existencial. Foram abandonados pelos pais em um orfanato e, posteriormente, adotados por uma família desconhecida. No entanto, novamente, foram abandonados por serem muito danados e baderneiros.
Júlio Cesar é o personagem-autor da obra. Ele narra os acontecimentos tensos e engraçados do romance, e ao mesmo tempo faz parte deles. Inicialmente sente raiva de Barnabé, conhecido como Prefeito por falar como tal, e de Bartolomeu, chamado também de boca de mel por falar compulsivamente, mas com o tempo passa a admirá-los pelas suas histórias de vida.
Cesar fora um professor universitário muito rígido e autoritário com seus alunos e com seus colegas professores. Queria ser um deus, mas não passava de um infeliz ser humano. Não admitia suas fragilidades e sua condição humana. Vivia preso a si mesmo. Vivia enclausurado e asfixiado no território onde deveria ser livre e feliz, ou seja, no território emocional.
Durante uma perturbante depressão queria suicidar-se pulando do alto de um edifício. No entanto o Mestre cruzou seu caminho e ele nunca mais foi o mesmo a partir desse dia. Passou, então, a seguir o Mestre e vender sonhos para as pessoas juntamente com ele e com os outros seguidores.
Mônica era uma modelo que se oprimiu por causa dos padrões de beleza estabelecidos pelo mundo da moda. Na tentativa de emagrecer adquiriu uma anorexia. Comia compulsivamente e logo depois vomitava tudo o que havia ingerido. Conheceu o vendedor de sonhos que a abalou com palavras sábias e cheias de conhecimento e passou a segui-lo.
Outras pessoas lesadas pela sociedade e pelos paradigmas que a sustenta conheceram o mestre durante os seus inúmeros discursos públicos e passaram a segui-lo, pois encontravam nele aquilo que não encontravam na rotina estressante do dia a dia, ou seja, paz e alegria. Os engraçados Bartolomeu e Barnabé divertiam a turma com suas brincadeiras que eram constantes.
Certo dia, foram convidados para discursarem em um presídio de segurança máxima. Aceitaram. Chegando lá abalaram os presidiários que eram de alta periculosidade. O Mestre pediu-lhes que falassem das suas frustações, dos seus erros e das lágrimas que há anos estavam represadas. O mais perigoso deles conhecido por El Diablo ficou estarrecido com as palavras do vendedor de sonhos e passou a repensar suas atitudes criminosas e seus erros.
Dias depois o Mestre recebeu uma carta enviada pelo o presidiário El Diablo dizendo que seus filhos e sua esposa haviam morrido de um acidente de avião que havia sido planejado. Queriam na verdade matar o vendedor de sonhos e mataram, mesmo que não fisicamente, mas psicologicamente. Tiraram-lhe seu maior tesouro, sua família.
A partir daí ele passou a vender sonhos às pessoas que sofreram, assim como ele, perdas irreparáveis. Era muito rico. Dono da empresa Megasoft. Uma empresa conhecida e admirada em todo o mundo. Após essas perdas se isolou por algum tempo e depois abriu mão de toda a sua riqueza.
Certa vez foi escorraçado e humilhado publicamente no saguão da sua empresa pelos seguranças do local. No hospital em que homenageou seu pai com seu nome quase foi assassinado ao injetarem analgésicos propositalmente em suas veias. Além disso, foi humilhado pelos atendentes e médicos do mesmo hospital que disseram que ele era um mendigo e deveria ser tratado como tal. Isso aconteceu após ele ser agredido violentamente em uma tentativa de homicídio.
Quando seus discípulos descobriram que ele se chamava Mellon Lincoln Filho, o mesmo nome de seu pai, e que ele era milionário dono de uma das maiores empresas do mundo ficaram atônitos, perplexos. Não conseguiam compreender que seguiam um dos homens mais ricos do planeta e, menos ainda, que ele havia sido espancado e humilhado pelos seus empregados. Ficaram chocados.
Todavia, o Mestre não guardava rancor em seu coração, pois dizia que a melhor forma de nos livrarmos dos nossos inimigos era perdoá-los.
Dizia também que a melhor coisa que se faz com uma semente é sepultá-la, pois só assim ela poderá germinar e, posteriormente, frutificar saborosos frutos. No entanto, chorou inconsolavelmente ao saber que sua família havia morrido por sua culpa, mesmo que indiretamente, visto que o odiavam e o invejavam pelo sucesso, prestígio e status social que adquiriu ao longo dos anos.
Enfim, durante a narração da obra ocorrem inúmeros acontecimentos chocantes, emocionantes, engraçados, tensos, angustiantes e felizes. A loucura e a lucidez, a tranquilidade e o estresse, o amor e o ódio convivem no mesmo ambiente, são afinal, somente, privilégios dos vivos.